Vivemos o caos! É o transito barulhento, é o trabalho estressante, é o cotidiano estafante, não importa, pois nenhuma tentativa de ordem abalará a conturbada e caótica existência moderna. Albert Camus já descrevia em um célebre poema uma rotina mortalmente torturante, já que ela mantem a mente presa em uma jaula sem grades onde somos ao mesmo tempo os presos e os carcereiros. Buscamos a ordem das coisas, mas damos passos e mais passos para o caminho inverso. Estamos submersos no caos. Complicamos o simples, mascaramos o real, vestimos personagens que não nos deveriam ser importantes... Somos a autoridade sobre o vazio, o especialista em assuntos nada interessantes, somos o nada em nós mesmos.
Complicado, não?! Mas pense em quanto complicou as coisas para você mesmo durante sua existência? Como que aquela vivência pueril da simplicidade, onde apenas bastava estar alí, apenas bastava se divertir, apenas bastava descobrir,passou para a insana busca frenética por coisas sem sentido, por aparências, por títulos, por status, por ego. Dizem que as crianças enxergam os elementais, e isto pode ser verdade, pois elas não estão preocupadas em saber se é real ou ilusão, somente estão preocupadas em vivenciar o momento...e desaprendemos justamente isto. Coisas ocorrem em nossas vidas, pássaros cantam, flores brotam, mas não vemos e nem veremos, pois temos de chegar no escritório para nos enfurnar em uma sala cuja única visão é para uma tela de computador no qual, com certeza, você desejaria do fundo de sua alma não estar ali. Em busca de viver, acabamos por tentar sobreviver, e em busca de sobreviver, nos matamos lentamente.
Perdemos a noção do que seja simples, trocamos a vida pelas aparências, trocamos o tudo pelo nada. E neste caos, muitas vezes buscamos fugir de tudo, buscar sermos nós mesmos...e não percebemos que o "sermos nós mesmos" já foi corrompido com ideologias e abstrações que nem deveriam estar alí. Esquecemos de não buscar, de não ser...só sentir, deixar viver.Sim, pois quando buscamos "ser nós mesmos" na verdade estamos atrás de um "eu idealizado"...e somente quando vivemos de fato, quando apenas sentimos, deixamos de portas as máscaras que carregamos desde a tenra idade e apenas nos deixamos levar, sem nos preocuparmos com o eu, o mundo e o resto, é que encontramos a felicidade, pois encontramos a simplicidade ao anularmos nossas máscaras e nos tornarmos uno com o todo e o nada ao mesmo tempo.
Complicado?! Nada...garanto que já experimentou esta simplicidade antes...quando era criança e brincava sem se preocupar se iam te chamar de maluco...Ou quando esteve só, no campo, tomando uma bebida quente, sem pensar em nada..ou quando dançou freneticamente como se não houvesse mundo lá fora, se não houvesse tempo, espaço ou existência...Já vivenciamos esta sensação...e só a vivenciamos pois a mantivemos simples, não procuramos rotulá-la. Somente a vivenciamos...e por isto, por nos tornarmos um todo e um nada ao mesmo tempo, sem preocuparmos com o status quo, é que vivenciamos, nos tornamos simples.
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