quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Visões de Mundo - dia 18

Depois do dia da história e da história do druidismo no Brasil, chegou o dia que fecha o ciclo... O que tudo isto nos leva a pensar e a agir, em nossa própria fé, em nossa vivência espiritual? Logo após a minha postagem sobre a história do druidismo no Brasil, me deparei com esta questão, que tem a ver também com as diversas linhagens druídicas existentes. Cada uma ao seu modo, mostra uma visão de mundo diferenciada e ao mesmo tempo, complementar. Só que ainda vemos radicalismos em vários setores, que precisam ser podados, pois isto não trará benefícios a nenhuma das partes envolvidas. Então, vamos por partes, desconstruindo os pré-conceitos...

  1. O Radicalismo Histórico: Quando o meso-druidismo surgiu, falar que stonehenge foi construída pelos celtas, colocar que o druidismo era um "monoteísmo disfarçado" entre outras coisas, não só era normal, como historicamente aceito por todos! Somente nos dias atuais é que as coisas mudaram, as teorias históricas evoluíram (ou não...alguns historiadores parecem que apenas aceitam a versão romana dos fatos), o mundo mudou.... Mas o Meso-druidismo continua com os mesmos pensamentos. Eles estariam errados? Creio eu que não, pois é uma visão diferenciada de mundo, onde na época do surgimento deles, era aceitável. Se a cada mudança de visão histórica, toda uma doutrina teológica tiver de ser mudada, logo não estaremos mais discutindo druidismo, pois ele deixará de existir. Como disse Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista, "tudo o que é sólido, desmancha no ar", e é isto que vemos na história acadêmica dos dias de hoje. A desconstrução feita agora, do que se achava verdadeiro no passado, amanhã ou depois será feita com as idéias que achamos verdadeiras hoje. É assim com as ciências, em especial as humanas. Querer uma visão restritamente histórica do druidismo, sem estar aberto a ao menos respeitar as visões oriundas do passado é tão errado quanto o radicalismo dos antigos meso-druidas de não aceitarem o neo-druidismo e o Reconstrucionismo Celta.Acho que ambos tem muito que aprender um com o outro, e AMBOS são celtas em sua essência, e é isto que deveria importar!
  2. O Radicalismo étnico-folclórico: Aqui, estou me referindo a aquela velha história de "Isto é celta, isto não é!" que vemos quase que diariamente em muitos sites e grupos de druidismo e reconstrucionismo celta.... Criticam orações belíssimas, só pelo fato dela não ter palavras e metrias usualmente coloquiais para os celtas antigos. O engraçado, é que todos se esquecem que tem telhado de vidro, e que, em algum momento, aquele ritual que se faz diariamente, pode também ser desconsiderado como celta! Lembro-me de um debate sobre Beltaine na lista de discussão da Ordem Druídica do Brasil, onde se disse que o Maypole não era celta (e de fato, não é mesmo, é próprio da cultura finlandesa e saxã). Bem... muitas Ordens Druídicas usam o Maypole em seus rituais, e por conta disto, estes deixaram de ser celtas?! Tem grupos druídicos que usam vassouras em alguns ritos (eu particularmente, a uso para a limpeza do meu local sagrado, mas gosto - e conheço grupos - que a usam como limitadores dimensionais, quase como a Wicca o faz)... E eles não são mais ou menos druídicos do que os outros por conta disto! Tem muitos livros excelentes de magia celta, que foram escritos para wiccanos... E por isto eu não posso usá-los, por ser livro wicca, e portanto, celta!? Quantos druidas que eu conheço que tem um baralho de tarô em seu "kit oracular" e o usa em seus rituais!? E o tarô, é celta?! O radicalismo de não se abrir para ideias novas não condiz com um sacerdote da natureza... Natureza esta em constante mutação. Posso não gostar de determinadas ideias, de determinados termos e usos para objetos ritualísticos... Mas jamais devo deixar de ter a mente aberta para aprender com estes, pois em algum momento, aquele ensinamento me será útil, de uma forma ou de outra.
  3. O Radicalismo grupal: este acho que é o pior de todos... A história de que "meu grupo é verdadeiro, os outros não" é a pior coisa que pode existir no druidismo. Quantas coisas deixamos de aprender com o outro por conta disto?! Quantas coisas já ocorreram de errado, por justamente não haver união em nosso meio!? As pessoas se esquecem que o druidismo é um carvalho com vários galhos, e não uma touceira de bambus, se bem que os bambus são mais flexíveis do que muita gente no seio do druidismo... Estamos em uma era onde a União faz a força e traz o reconhecimento devido, como ocorreu com a Druidic Network na Inglaterra,  que "agremiou" outras ordens druídicas em um corpo jurídico único, e lutou por seus direitos, até conseguir a maior vitória de todas, que foi o reconhecimento como religião na Inglaterra. E nós, vamos continuar brigando por pouca coisa?! Ou vamos  "arregaçar as mangas" e nos unirmos para lutar pela nossa fé?!
Acho que o radicalismo cega. Devemos sim manter nossas tradições e costumes, mas sem perder de vista que a visão do outro é diferente da minha, e por isto, eu posso aprender muito com ela, mesmo que seja só pelo simples fato dela estar ali! Deixemos de lado as "viseiras de cavalo" do academicismo que impera em alguns setores, pois nenhum destes academicismos irá lhe revelar a sutil sabedoria adquirida ao se meditar aos pés de uma árvore frondosa. Deixemos de lado também as vendas que nos impedem de ver o novo... mesmo que o novo não seja assim tão novo! Temos duas escolhas de Visão de mundo... Escolhamos a que mais benefícios trarão para as futuras gerações!



AWEN




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