segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Oráculos - dia 20

Achei que estava faltando algo sobre os caminhos do Ovate, já que tudo o que foi falado referente a estes 30 dias druídicos acabou sendo mais voltado ao aspecto filosófico do druidismo, e consequentemente, mais voltado aos Bardos. Mas não vou ficar citando diferentes formas de oráculos utilizados pelos celtas (mesmo que eu queira fazê-lo, isto seria material para um livro, e não para uma matéria de blog!). Ao invés disto, prefiro ir a origem de todos os métodos oraculares, a essência encontrada em toda existência e que, sem ela, os sistemas oraculares, independente de qual for, seriam inúteis!

Estou falando da Intuição. Sem ela, nada em relação aos oráculos seria possível. Por quê?! Peguemos por exemplo o tarô, o mais conhecido meio oracular da humanidade. Um apanhado de gravuras que ocultam um significado em seus signos. Mas mesmo que estudemos a fundo, consigamos interpretar cada figura em seu aspecto singular, apenas estaremos interpretando os ensinamentos iniciáticos deste mecanismo, e não seu aspecto oracular. Para  chegarmos a parte oracular, não basta saber o significado oculto e iniciático de cada arcano, pois muitas vezes este conhecimento somente irá confundir o leitor do oráculo, o vidente. Cabe acima de tudo desconstruir o intelecto e as informações pré-concebidas de estudos anteriores, e partir para a intuição pura e simples... "Sei que o arcano x significa y, mas o que isto significa em uma situação z?", é esta a questão a ser levantada pelo vidente em toda consulta, e não só no tarô, mas em todos os métodos oraculares. 

Os métodos são apenas instrumento, uma ferramenta de auxílio para que o vidente possa entrar em contato com os aspectos mais sutis de sua intuição, e através dela, buscar os presságios que são solicitados. É por isto que há momentos em que "o oráculo não abre", pois o vidente em questão não consegue entrar em contato com sua intuição para atingir o significado daquele presságio. Isto é ruim? Depende da situação... Pode ser que a pessoa para qual estava destinada o presságio simplesmente não queira ouvir a resposta, e isto é mais comum do que se imagina! Jamais queremos ouvir que fulano não nos ama, ou que está sendo traído, etc. Muitas vezes, a resposta é tão dura, que a pessoa não está preparada para ouvir, e isto com certeza atrapalha todo o processo de vidência, já que lidamos com a intuição, e a ela é difícil de enganar... Sabemos de antemão quando a pessoa não está disposta a ouvir os conselhos do oráculo (sim, pois antes de ser uma mera adivinhação do futuro, é acima de tudo um aconselhamento sobre o que se deve ou não fazer), e isto, mesmo sendo oriundo de nosso inconsciente, bloqueia nossos canais de contato com a nossa fonte intuitiva.

O que fazer em uma situação dessas!? Nada! Apenas continuar estudando os mistérios de cada sistema oracular, e aliar a isto a um exercício diário de fortalecimento de sua intuição... Mas sempre sabendo, porém, que um dia nenhum contato conseguirá ser feito. E sabendo disto, tentar conhecer os motivos pelo qual as portas da intuição estavam fechadas naquele momento, para aprender com a intuição esta lição básica.

AWEN 

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Cotidiano - dia 19

Já foi falado que o druidismo não encontrou terreno fértil em solo brasileiro. Já ví um arquidruida exigir que o governo britânico devolvesse as pedras de stonehenge para o País de Gales, pois elas tinham vindo de lá. Já ouví uma druidesa falar que era proibido aos druidas comerem carne de porco, pois o javali era o animal da Deusa... Já ouvi coisas realmente absurdas quando se trata de druidismo, ditas por "grandes nomes" ou "druidas hierarquizados", e por conta disto, muitas vezes as pessoas se decepcionam e param sua jornada devido a estas e outras idiossincrasias do gênero. As pessoas muitas vezes esquecem-se de que por baixo de todos os títulos hierárquicos, debaixo do manto branco, encontra-se apenas um ser humano, com todos os defeitos e imperfeições inerentes a raça humana! Divinizam aqueles que estão ali para conduzir aos Deuses, como se estes também o fossem, e quando a verdade se mostra cruel diante de seus olhos, destruindo as ilusões ao primeiro sinal de falha humana, as pessoas perdem seu rumo!

O contrário também acontece, por sinal... Quantas vezes eu li as pessoas atacando X ou Y por este colocar no site de seus respectivos grupos que ele era um arquidruida, ou um grande druida, falando que estes se auto-intitulam coisas que não são!? Se esquecem que entre os celtas, a titulação de grande druida ou arquidruida, não era universal, e sim relativo a cada tribo ou região! E nos dias de hoje, temos inúmeras "tribos druídicas" espalhadas pelo mundo afora... Muitas com diferenças gritantes entre si, devida a diversidade cultural e de linhagem a ser seguida... Querer universalidade de titulação em um caso desses é exigir demais de uma cultura religiosa que nunca conseguiu uma unidade nem mesmo entre as tribos! Conheço muitos fundadores de grupos druídicos que são mais capacitados  do que muitos "grandes nomes" idolatrados por aí, mas por conta de "serem fundadores" de um grupo totalmente diferente destes grandes nomes, são marginalizados pelos demais. O povo esquece-se porém, que o conhecimento está ai, a séculos, disponível a todos... Esquecem que titulação é apenas para manter uma estrutura pro forma, não algo que deva ser cultuado como se a pessoa que ali estivesse se tornasse um Deus ao ser entronado arquidruida ou grande druida... É claro que a titulação traz poder e também responsabilidade, e muitos dos meus colegas que sofrem acusações de que se "auto-intitularam" por ego, trabalham constantemente para que o nome do druidismo seja mantido e divulgado, sem se importar se vão chamá-lo de engodo, de louco, de insano ou de "poço de ego", pois para eles, um dia eles deixarão de existir, mas o druidismo e a semente plantada por eles irá permanecer por gerações. O trabalho de cada um é diário, incessante... E lógico, passível de falhas e erros, pois não é uma obra divina, e sim algo feito por mãos humanas. 

Por isto, algo que se deve ter em mente nesta jornada.... Muitas vezes erramos, e não é por causa de um título hierárquico que não iremos mais errar... Muitas vezes teremos "auto-intitulações" que se mostram mais eficazes do que muitas entornações oriundas sabe-se lá de onde, pois muitas vezes estes que sofrem ofensas falando-se que ele está movido pelo ego, está mais disposto a lutar por um ideal do que aquele "grande nome" que haje de acordo com seus interesses, e que se as coisas não saem do jeito que querem, vão embora falando que "o solo é ruim, e a semente não crescerá"... Mas a jornada, esta é única e exclusivamente sua! A responsabilidade  sobre ela é de você, e de mais ninguém! Então pare de cultuar os que te guiam, pois não são eles que merecem teu culto! Ao invés disto, preste mais atenção ao teu interior, a Fonte de Inspiração que a todos nós assiste... Garanto que ela jamais lhe decepcionará!
AWEN

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Visões de Mundo - dia 18

Depois do dia da história e da história do druidismo no Brasil, chegou o dia que fecha o ciclo... O que tudo isto nos leva a pensar e a agir, em nossa própria fé, em nossa vivência espiritual? Logo após a minha postagem sobre a história do druidismo no Brasil, me deparei com esta questão, que tem a ver também com as diversas linhagens druídicas existentes. Cada uma ao seu modo, mostra uma visão de mundo diferenciada e ao mesmo tempo, complementar. Só que ainda vemos radicalismos em vários setores, que precisam ser podados, pois isto não trará benefícios a nenhuma das partes envolvidas. Então, vamos por partes, desconstruindo os pré-conceitos...

  1. O Radicalismo Histórico: Quando o meso-druidismo surgiu, falar que stonehenge foi construída pelos celtas, colocar que o druidismo era um "monoteísmo disfarçado" entre outras coisas, não só era normal, como historicamente aceito por todos! Somente nos dias atuais é que as coisas mudaram, as teorias históricas evoluíram (ou não...alguns historiadores parecem que apenas aceitam a versão romana dos fatos), o mundo mudou.... Mas o Meso-druidismo continua com os mesmos pensamentos. Eles estariam errados? Creio eu que não, pois é uma visão diferenciada de mundo, onde na época do surgimento deles, era aceitável. Se a cada mudança de visão histórica, toda uma doutrina teológica tiver de ser mudada, logo não estaremos mais discutindo druidismo, pois ele deixará de existir. Como disse Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista, "tudo o que é sólido, desmancha no ar", e é isto que vemos na história acadêmica dos dias de hoje. A desconstrução feita agora, do que se achava verdadeiro no passado, amanhã ou depois será feita com as idéias que achamos verdadeiras hoje. É assim com as ciências, em especial as humanas. Querer uma visão restritamente histórica do druidismo, sem estar aberto a ao menos respeitar as visões oriundas do passado é tão errado quanto o radicalismo dos antigos meso-druidas de não aceitarem o neo-druidismo e o Reconstrucionismo Celta.Acho que ambos tem muito que aprender um com o outro, e AMBOS são celtas em sua essência, e é isto que deveria importar!
  2. O Radicalismo étnico-folclórico: Aqui, estou me referindo a aquela velha história de "Isto é celta, isto não é!" que vemos quase que diariamente em muitos sites e grupos de druidismo e reconstrucionismo celta.... Criticam orações belíssimas, só pelo fato dela não ter palavras e metrias usualmente coloquiais para os celtas antigos. O engraçado, é que todos se esquecem que tem telhado de vidro, e que, em algum momento, aquele ritual que se faz diariamente, pode também ser desconsiderado como celta! Lembro-me de um debate sobre Beltaine na lista de discussão da Ordem Druídica do Brasil, onde se disse que o Maypole não era celta (e de fato, não é mesmo, é próprio da cultura finlandesa e saxã). Bem... muitas Ordens Druídicas usam o Maypole em seus rituais, e por conta disto, estes deixaram de ser celtas?! Tem grupos druídicos que usam vassouras em alguns ritos (eu particularmente, a uso para a limpeza do meu local sagrado, mas gosto - e conheço grupos - que a usam como limitadores dimensionais, quase como a Wicca o faz)... E eles não são mais ou menos druídicos do que os outros por conta disto! Tem muitos livros excelentes de magia celta, que foram escritos para wiccanos... E por isto eu não posso usá-los, por ser livro wicca, e portanto, celta!? Quantos druidas que eu conheço que tem um baralho de tarô em seu "kit oracular" e o usa em seus rituais!? E o tarô, é celta?! O radicalismo de não se abrir para ideias novas não condiz com um sacerdote da natureza... Natureza esta em constante mutação. Posso não gostar de determinadas ideias, de determinados termos e usos para objetos ritualísticos... Mas jamais devo deixar de ter a mente aberta para aprender com estes, pois em algum momento, aquele ensinamento me será útil, de uma forma ou de outra.
  3. O Radicalismo grupal: este acho que é o pior de todos... A história de que "meu grupo é verdadeiro, os outros não" é a pior coisa que pode existir no druidismo. Quantas coisas deixamos de aprender com o outro por conta disto?! Quantas coisas já ocorreram de errado, por justamente não haver união em nosso meio!? As pessoas se esquecem que o druidismo é um carvalho com vários galhos, e não uma touceira de bambus, se bem que os bambus são mais flexíveis do que muita gente no seio do druidismo... Estamos em uma era onde a União faz a força e traz o reconhecimento devido, como ocorreu com a Druidic Network na Inglaterra,  que "agremiou" outras ordens druídicas em um corpo jurídico único, e lutou por seus direitos, até conseguir a maior vitória de todas, que foi o reconhecimento como religião na Inglaterra. E nós, vamos continuar brigando por pouca coisa?! Ou vamos  "arregaçar as mangas" e nos unirmos para lutar pela nossa fé?!
Acho que o radicalismo cega. Devemos sim manter nossas tradições e costumes, mas sem perder de vista que a visão do outro é diferente da minha, e por isto, eu posso aprender muito com ela, mesmo que seja só pelo simples fato dela estar ali! Deixemos de lado as "viseiras de cavalo" do academicismo que impera em alguns setores, pois nenhum destes academicismos irá lhe revelar a sutil sabedoria adquirida ao se meditar aos pés de uma árvore frondosa. Deixemos de lado também as vendas que nos impedem de ver o novo... mesmo que o novo não seja assim tão novo! Temos duas escolhas de Visão de mundo... Escolhamos a que mais benefícios trarão para as futuras gerações!



AWEN




terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

História do Druidismo no Brasil - dia 17


Este post é o maior motivo pelo qual eu resolvi escrever os 30 dias... Quando eu vi as postagens do Endovelicon, e fui informado por ele que não havia necessidade de seguir a risca a lista original, lodo de início visualizei este dia chegando. É um fator de Honra escrevê-lo, até porque irá ser corrigido uma tremenda injustiça que eu vi na época em que os grupos de e-mail do Yahoo eram febre e a única fonte de informação coletiva existente (hoje, temos as redes sociais...). Mais precisamente, em 2004, em um dos grupos que eu participava (alguns meses depois, este grupo foi extinto), a coordenadora do mesmo disse com todas as letras que ela e uma outra pessoa (não direi o nome, pois não sei se ele sabe desta postagem neste grupo, e colocá-lo aqui seria cometer direta ou indiretamente uma injustiça), eram os ÚNICOS representantes do druidismo no Brasil, querendo dizer que era por conta dos dois que o druidismo existia em nossas terras, o que, na hora, achei um tremendo absurdo! Os conhecedores do druidismo brasileiro sabem que a história dos sábios do carvalho em nossas terras não é tão recente como esta pessoa quis promover. E é em virtude desta injustiça, e para honrar os que antes de nós vieram até aqui para plantar os "bosques de carvalho" do druidismo, que escrevo este dia!

Podemos dizer que o druidismo começou a aparecer em terrae brasilis entre final da década de 70, início de 1980. com o senhor Savu Septimus de Morosini, em Maceió. Ele foi o precursor de toda esta história, como representante do Colégio Druídico das Gálias. Antes dele, o máximo que se houvia falar sobre, era em Ordens Iniciáticas, e ainda assim, como referência, e não como estudo aprofundado. Depois da morte dele, na década de 80, o Meso-druidismo Patriarcal (sim, pois ainda há outra parte desta história) brasileiro se articula para formar o Colégio Druídico do Brasil, formado em 1986, pelo Grande Druida Derulug - Lachesis Lustosa de Mello -  e a Grande Druidesa Laura - infelizmente, não sei dizer seu nome druídico... - , mantendo a ligação com o Colégio Druídico das Gálias. Paralelamente, na mesma época surge o Movimento Alternativo Espiritual, braço externo da Sociedade de Estudos Celtas Alohanay, uma Ordem Druídica Matriarcal. Ambas as Ordens, cada uma a sua maneira, divulgou sua linhagem e sua maneira de ver o Grande Carvalho para o Brasil. Após a morte de Lachesis, no entanto, o Colégio Druídico começa a sofrer um declínio, que levou ao seu adormecimento em meados dos anos 2000. Atualmente, os "herdeiros" da linhagem meso-druídica patriarcal no Brasil são a Assembléia da Tradição Druídica do Brasil - ligada ao Colégio Druídico das Gálias e a Ordens Convencionadas Conforme a Tradição dos Druidas (OD/OCCTD) - e o Colégio Internacional de Estudos Celto-Druídicos. Já o Movimento Alternativo Espiritual ainda continua suas atividades, e dele surgiu outra ordem druídica matriarcal (independente do M.A.E), que é a Ordem Druídica Aro de Prata. Ambas no entanto, não possuem formas de afiliação on-line, o que dificulta o contato com estas ordens. 

Ainda falando da da Ordem Druídica Aro de Prata, ela surge no final da década de 1990, no Vale do Paraíba, interior de São paulo, como Núcleo de Estudos Druídicos Aro de Prata. Por volta de 2000-2001, é elevada a categoria de Ordem Druídica, tendo seu nome alterado para o conhecido atualmente. Foi lá que iniciei meus estudos e minha jornada, e não falar sobre esta Ordem seria renegar meu passado, o que seria errado... Mas continuando: Tanto a ODAP quanto o M.A.E seguem uma linha ritualística diferente do meso-druidismo patriarcal, ou mesmo do neo-druidismo, o que me fez ficar um tanto quanto perdido quando me afastei desta ordem em 2000, pois olhava outros ritos, e não encontrava muitos pontos em comum... Somente com o passar dos anos é que percebi que estes pontos eram mais sutis do que se pode imaginar.

Pois bem... Em pleno novo milênio, início dos anos 2000, o Neo-druidismo começa a ganhar força em nosso solo. Começam a surgir representações de Ordens Druídicas europeias, como a BDO, que depois deu lugar a Druidic Network, e também Ordens genuinamente brasileiras, como a saudosa Ordem Druídica do Brasil, cuja filosofia e proposta de propagação do druidismo no Brasil, após o encerramento de suas atividades, fez surgir inúmeras outras Ordens e Nemetons pelo Brasil a fora! Se avaliarmos bem, com a ODB e com a druidic netowrk, no período de seu funcionamento, várias outras Ordens surgiram, inclusive as primeiras manifestações do Reconstrucionismo Celta em nossas terras!

Este é apenas um breve histórico do druidismo em nossas terras... Mas já dá para perceber que o Carvalho apresentou seus frutos por aqui muito antes dos anos 2000, como foi "proclamado" por uma certa pessoa... Acho que é interessante para todos os que iniciam sua jornada no Druidismo, antes de qualquer coisa, buscar saber mais sobre esta história, para poder prosseguir no futuro! Claro que muitas Ordens ficaram faltando, algumas foi porque não consegui dados históricos ou contato com elas... Outras, para que elas mesmas se manifestem, e escrevam sua história (como a Ordem ao qual pertenço atualmente e sou fundador, a Ordem Druídica Trevo e Azevinho, fundada originalmente como Núcleo de Estudos Druídicos Trevo e Azevinho, em 2004, com uma lista de discussão no Yahoo... Tal lista nos dias de hoje encontra-se adormecida, mas seus frutos não, como a própria Ordem e este blog são testemunhas.). A história do Druidismo, no Brasil e no Mundo, é rica, e por isto mesmo deve ser estudada, mesmo que sua linhagem seja diferente das demais, assim, certos erros que vejo na Internet como tentar depressar o histórico do meso-druidismo para a história e doutrina druidas, por exemplo, deixariam de existir. 

AWEN 

domingo, 5 de fevereiro de 2012

História - dia 16

"Sou um senhor de uma certa idade... Tão antigo, que nem sei ao certo qual seria minha idade verdadeira. Alguns dizem que surgi na Hiperbórea, outros, Atlântida, alguns falam em 6000 ou 10000 anos... Somente sei que a aproximadamente 4700 anos, recebi o nome pelo qual sou conhecido até os dias de hoje! Tudo começou quando RAM (ou RAMA, ou Gwydyon, conforme a fonte que lhe conta este fato... prefiro Gwydyon) vendo seu povo desfalecer de uma Peste que assolou o Vale do Danúbio, sem que as Sacerdotisas conseguissem arrumar outra solução para isto a não ser os sacrifícios humanos, e vendo que nem isto solucionava o problema, sentado aos pés de um frondoso Carvalho, teve a Visão que mudaria a História de seu povo... Recebeu dos Antigos, através do AWEN Divino, o ensinamento de uma poção feita com o Visco do Carvalho, que serviria de remédio para seu povo... Ele assim o fez, colhendo o Visco e preparando-o conforme as orientações que lhe ensinaram, e distribuiu ao povo no dia do Solstício de Inverno. A partir deste dia, todos aqueles que se dispuseram a perpetuar o conhecimento e a sabedoria obtidos naquela Visão aos pés do Carvalho Sagrado, foram chamados como sou conhecido hoje... De Druidas, ou os Sábios do Carvalho!

E de lá para cá, muita coisa aconteceu... As sacerdotisas, perdendo espaço, guerrearam com os partidários de Gwydyon, provocando primeiro uma expansão do povo para outras terras, indo até onde hoje encontra-se a Índia, e depois, o afastamento das sacerdotisas mais radicais para a Ilha de Sene, e as mais moderadas, se juntando ao novo corpo sacerdotal recém formado. Foi um período de grande florescimento e amadurecimento do conhecimento desses sacerdotes e sacerdotisas... A Natureza, sempre um livro aberto para que estivesse disposta a lê-la, foi graciosamente  folheada, e sua sabedoria compartilhada com estes que receberam o meu nome. E assim foi até que o aparato romano comandado por Julius Caesar, com seu ímpeto de conquista e controle, resolveram invadir as localidades onde os povos celtas habitavam, primeiro as Gálias, depois a Bretanha Menor e as ilhas britânicas, até que as tropas romanas invadiram a ilha de Iona, massacrando sacerdotisas e druidas que lá habitavam, acabando oficialmente com aqueles que perpetuavam meu nome... Digo oficialmente, pois muitos conseguiram se esconder, ou fugir para o norte, para as Highlands escocesas, ou para a Irlanda, e lá puderam continuar com os ensinamentos do Sagrado Carvalho, já que, nestes locais, os romanos dificilmente conseguiram entrar.

Mesmo escondidos, ou refugiados, os que receberam meu nome continuaram a compartilhar o conhecimento e a sabedoria do Carvalho com os demais, até que outro fator, também oriundo de Roma, mudou drasticamente nossas vidas.. Uma nova religião se apoderou do Império Romano, e tratou de aniquilar com toda  forma religiosa divergente da deles. E esta doutrina, nem a Muralha de Adriano, que protegeu a todos por séculos, foi capaz de impedir seu progresso. A imposição de uma nova doutrina religiosa ao povo, usando da força em muitos casos, ou da mentira em outros, pois chamaram nossos Deuses de demônios para fazer com que todos se convertessem, fez com que os remanescentes que ajudaram a perpetuar meu nome tomassem algumas atitudes... Alguns adentraram aos monastérios recém construídos onde outrora cultuavam os antigos Deuses, aceitando seus costumes, para que, na calada da noite, no silêncio de suas celas, pudessem continuar com suas práticas e seus ensinamentos... As Ordens Monásticas da nova religião que aceitaram os nossos se beneficiaram disto, pois seu conhecimento era inigualável, é só olhar os Beneditinos, a Ordem de Cister, que depois, através deste ensinamento que conseguiu ser preservado, fez surgir a Ordem dos Templários, e verão que não é mentira o que é relatado! Já outros que não aceitaram se submeter aos ditames da nova religião, coube a eles ou se agruparem nas confrarias bárdicas que começaram a se formar a partir do século IX, viajando errantes de taverna em taverna, propagandeando os ensinamentos de forma velada em canções sobre heróis e cavaleiros, ou se refugiaram em viras isoladas do restante da "civilização", mesmo sabendo que, um dia, a nova religião também chegaria ali!

E assim foi, que meu nome se perpetuou, hora oculto nos monastérios, hora velado nas canções dos bardos, hora escondido em aldeias que ninguém prestava a atenção, na Irlanda, na Ilha de Man, e entre os Celtiberos da Espanha. Meus costumes acabaram, de uma forma ou de outra, sendo assimilados por esta nova religião, minhas festas, idem! E assim foi até final do século XVII, quando igual a Fênix, que ressurge das cinzas, começou-se a falar abertamente sobre mim novamente... Livros como o Barddas de Iolo Morganwg e Ossian de MacPherson fazem com que as pessoas sintam a necessidade de retomar este meu conhecimento que acabou se tornando oculto. Ordens e Confrarias surgem para retomar o meu nome, perpetuar meu conhecimento... Grandes nomes passaram por estas confrarias, ou ao menos assistiram a um de seus rituais. Chefes de Estado e Rainhas... Lá estavam prestigiando, como ocorria outrora! Só que estas Confrarias estavam ainda com os resquícios da assimilação do conhecimento que ocorreu nos monastérios da nova religião... E muitos, sentindo a Força Inspiradora do AWEN Divino, resolveram "purificar" o conhecimento, tentando retirar dele tudo aquilo que era influência da nova religião... O que em alguns casos simplesmente matou o conhecimento, tanto antigo quanto novo, pois já não se sabia o que era de um ou de outro.

E hoje, cá estou, a contar esta história sobre mim, de onde surgi, e onde estou... Espalhei-me como sementes de flores ao vento, adaptei-me ao solo de cada lugar... São inúmeros Carvalhos Sagrados a levar o meu nome, a Verdade em Face ao Mundo, de maneiras diferentes, de formas diferentes... Mas todas, em sua essência, são uma coisa só! Todas estão em mim! Todas são druidismo! Eu sou o Druidismo, e esta é um pouco da minha história!"

AWEN

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Meditação e Distrações - dia 15

Marcassim - Druida! Druida! Acorde! Vamos!

Druida - Mas estou acordado, meu jovem! Por que acha que estava dormindo?

Marcassim - É que o senhor está quieto a três dias... O senhor nada falou depois do 14º dia! E ainda faltam uns quinze dias para encerrar a jornada... Mas com este atraso... O senhor não estava dormindo... Estava meditando?!

Druida - Ora! Primeiro, não estamos atrasados, meu jovem... O rio flui conforme a sua Natureza, e eu também! E em segundo lugar, meditar é algo diferente do que estou fazendo! Meditar é o ato de esvaziar a mente, deixá-la limpa de pensamentos adversos, para que possa receber as Emanações do Incriado. O que estava fazendo era simplesmente admirar a Natureza ao meu redor, inspirando-me com tamanha beleza...

Marcassim - (Aos gritos) Mas por três dias?!?!?!

Druida - (Ainda calmo) Sim! A beleza dessa paisagem é tão revigorante e inspiradora, que tinha que admirá-la, e quem sabe, assim, aprender ainda mais sobre ela... Deveria ter feito o mesmo, e não ter se preocupado como tempo que levaremos para chegarmos ao nosso destino!

Marcassim - (Um pouco mais calmo) Mas druida, outros estão lhe esperando! Enquanto o senhor se distraía com a paisagem, muitos estavam ansiosos por conhecimento! Por favor, venha e não se distraia mais!

Druida - Ansiosos!? Meu jovem marcassim, o conhecimento verdadeiro é oriundo da Inspiração e das Emanações do Incriado! Se não conseguiram enxergar esta Verdade, se não conseguiram ir direto à fonte de Toda a Inspiração, como é que eu irei mostrar o conhecimento  verdadeiro!? Isto sim é se distrair, e não o que eu estava fazendo!

Marcassim - Druida, fiquei sem entender... Poderia me explicar?!

Druida - Mas é claro! As pessoas pensam que distrações são coisas que lhe tiram do rumo, e de fato isto é verdadeiro. Mas se esquecem que o nosso rumo é de aprender e evoluir, e não o de acumular e consumir! Esta é a primeira grande distração, a que ilude as pessoas sobre qual o objetivo verdadeiro, enganando-as e tirando-as do rumo traçado para tirá-las do círculo de encarnações de Abred, e levá-las a Gwenwed! Vemos a cada dia o Ter ganhar mais importância do que o Ser, e isto desvia do conhecimento verdadeiro, pois aprende-se a TER, e não a SER.

Marcassim - Druida, interessante! Existem outras distrações além desta?!

Druida - Claro! Inúmeras outras! Tantas que, se fossemos discorrer sobre cada uma delas, levaríamos a Eternidade para fazê-lo, e talvez não fosse suficiente! Mas uma outra que merece nossa  atenção, meu jovem, são os objetos que servem para marcar o tempo...

Marcassim - Hã?!

Druida - Sim! E a prova disto é você mesmo! Ou não chegou até aqui neste menir, onde estou encostado, desesperado por "eu estar atrasado em três dias" na minha jornada!? Os Homens inventaram os mecanismos de marcação do Tempo - como este menir onde estou encostado, que serve de gnomôn, a ampulheta, o relógio, o calendário, entre outros - para auxiliá-los em seus afazeres, no entanto, tornaram-se escravos desses objetos, e esqueceram do que é mais importante... A própria vida! Quantos nascer e pôr-do-sol as pessoas perdem, por "estarem atrasadas", "terem um compromisso a tal hora"!? Quantos aprendizados a Natureza nos dá diariamente, mas é jogado fora  pois não paramos para simplesmente ouvir este ensinamento! As pessoas ficam tão ansiosas por estarem escravas do tempo, que se esquecem a lição que a Natureza lhes ensina, que é a de aproveitar ao máximo o aqui e agora! O Sol nasce e morre todos os dias, mas ele não se preocupa  com o dia de amanhã, e sim com o momento de agora, de Iluminar a Terra agora! O mundo seria mais amistoso se as pessoas soubessem ouvir a Fonte de Inspiração Verdadeira, e não o que diz o relógio, a ampulheta, o calendário... Isto sim é se desviar do caminho correto, é se distrair, e não o que estava fazendo!

Marcassim - Druida... acho que entendi! Poderia falar mais!?

Druida - Sente-se naquele outro menir, e deixe que a Natureza lhe ensine, e não eu! Limpe sua mente daquilo que lhe impede de aprender da Fonte, medite... E aproveite a paisagem, pois ela é bela!