Bem... depois do silêncio de ontem, este tema talvez seja mais relevante do que outros para o exato momento... Começarei com uma pequena história:
Após a Grande Celebração que marcava o final de mais uma Era Druídica, o Arquidruida, sentado junto aos outros Grandes Druidas, perguntou:
- "Irmãos, como bem sabem, somos guiados por Nove Nobres Virtudes. Gostaria que vocês, guardiões do Conhecimento dos Antigos, me dissessem qual delas é a mais importante, e por quê?
- Bem - exclamou o primeiro Grande Druida - acredito ser a Hospitalidade... Um homem que não saiba receber em sua casa, nem se portar na casa alheia, somente atrairá para si o rancor dos demais!
- Discordo, caríssimo Irmão - exclamou o segundo Grande Druida sentado à mesa - pois a Coragem é a mais importante... Alguém que se acovarda diante de uma situação e deixa os demais que dependem dele desprotegidos, só atrairá para si a desgraça da covardia!
- Acho que os irmãos se equivocam - diz o terceiro Grande Druida - pois um homem que não fale a Verdade jamais será alguém confiável.
- Discordo de todos - diz o quarto - pois alguém que não seja Fiel a sua família e ao seu clã, traz a ruína para toda a tribo."
Quando a discussão ia tomando corpo, mas nenhum dos Grandes Druidas chegava a um consenso, o Bardo que tocava durante o banquete parou de tocar sua harpa e se dirigiu ao Arquidruida, para lhe pedir a palavra... A cena foi te tamanho assombro, que todos os Grandes Druidas que junto estavam, se aquietaram. Foi quando o arquidruida permitiu ao Bardo que falasse:
"- Posso não ser um grande sacerdote como os senhores aqui presentes, mas digo a todos, que a maior das virtudes é a Honra!Pois Aquele que sabe receber bem, e se comporta de forma admirável na residência dos outros, só faz aquilo que a Honra lhe obriga a fazer, que é agir com os outros como agem contigo, e agir com os demais como queira que ajam contigo! A Coragem é apenas uma faceta da honra, pois um covarde somente o é desse jeito, porque engana a si mesmo, e nega a sua pobre existência o direito de agir sem o temor. E ao enganar a si mesmo, ele sonega a Verdade de seu coração, sendo infiel ao princípio mais primitivo da natureza, que é a Sobrevivência. Se ele já infringe em um único ato vil, muitos outras virtudes, ele demonstra que a Honra não se encontra com ele! Somente alguém honrado poderá ser fiel, justo, verdadeiro, corajoso e bom! Se for para dizer qual a maior das virtudes, que se diga que é a Honra, pois ela é a única que engloba todas as outras!"
O Arquidruida, com a emoção daqueles que se deparam com a Grande Verdade do Universo, levantou-se, abraçou o Bardo, e disse aos demais:
"- Vejam... os senhores ficaram discutindo durante um bom tempo sobre as Virtudes, mas se esqueceram de que é na simplicidade que se encontra a resposta verdadeira! Parabéns, meu caro Bardo! O AWEN Divino foi manifesto em suas palavras, e trouxe-nos a Luz onde havia as trevas!"
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A história, por si, talvez já bastasse para ilustrar este tópico... mas devido ao ocorrido ontem, acho necessário um pouco mais de argumentação...
Para um sacerdote, três coisas são terríveis em sua jornada espiritual: Perder a fé em Deus, Perder a fé na humanidade, e Perder a fé em si mesmo. Se perde a fé em Deus, ele - o sacerdote - perde a sua função de alguém que está ali "intermediando" a ligação entre os homens e Deus (e daí vem um dos sentidos originais do religare) e com isto, torna-se um ateu ou um herege. Se perde a fé na humanidade, ele não terá o porquê ser o "intermediador" entre os homens e Deus, pois para ele, os homens deixaram de ser merecedores dessa ligação, se perderam... e isto geralmente torna o sacerdote em um eremita, alguém que se isola do mundo. Perder a fé em si mesmo torna o sacerdote alguém desonrado, pois qualquer tentativa dele de funcionar como um "intermediador" entre os homens e a Divindade será falsa, ele não conseguirá acreditar nem em Deus e nem nos homens, pois não conseguirá acreditar em si mesmo.
Ontem foi um daqueles dias em que a fé na humanidade se torna bem abalada... Faz tempo que só vejo barbárie ocorrendo... é maus tratos e tortura aos animais, é o sufocamento ideológico que o Governo federal faz em cima dos índios de Belo Monte, é índios sendo chacinados, criança índia sendo queimada viva... e ontem, como o último tijolo do muro da vergonha, mortos, gravidas e crianças feridas em uma reintegração de posse em que se utilizou do totalitarismo e da força bruta desnecessária,pois momentos depois, um juiz federal mandou suspender a ordem de reintegração que já havia sido cumprida! As imagens e a indignação acerca de tudo isto me dominaram, e sem condições de fechar os meus olhos ao ocorrido, para escrever qualquer coisa que seja, pois aquelas cenas só me confirmaram que nossa sociedade esqueceu o que seja a Ética, o que seja a Moral... Esqueceu-se que não existe honra em lutar contra um inimigo desarmado, sendo que você está armado até os dentes. Ataca-se os mais fracos, pois sabem que eles não irão reagir, ou se reagirem, a sua reação poderá servir de desculpa. Diante de tudo isto, minha fé na humanidade ficou abalada, e resolvi dar este tempo... pensar... e o fruto dessa reflexão está aqui, postado! Deixar de lutar seria considerar-me derrotado antes mesmo de se iniciar a luta! É um dever, não só como druidas, mas como seres humanos, lutarmos por aquilo que acreditamos, lutar por uma "utopia possível", onde a Justiça e a Verdade andem lado-a-lado com os homens...Deixo vocês com estas palavras... Não se calem diante das injustiças, não cruzem os braços diante daquilo que considerar errado, lutem! Pois da luta pelos ideais é que se realizam os sonhos!
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